Aparelho dentário e a Vida devocional: o que eles têm em comum?

“Na luta contra o pecado, vocês ainda não resistiram até o sangue.” – Hebreus 12.4

Recentemente retornei ao consultório da minha dentista para retomar os cuidados necessários, após um certo tempo de ausência. Ainda que nesse mês não estivesse tão confortável para o meu bolso, vi como um caso de prioridade já que a manutenção não estava em dia e se remarcasse pela quarta vez, a atendente com certeza findaria sua paciência.

Chegando lá, fui atendido. Foi feita a troca de todo material metálico, os fios, os braquetes (não, eles ainda estavam funcionais), as borrachinhas, que inclusive escolhi o azul claro, pois meses atrás foi a primeira cor que havia escolhido quando iniciei o uso do aparelho, o que simbolizaria para mim um recomeço. Ela passou a situação geral, recomendou as quantidades necessárias diárias do uso da escova, fio dental, uma pasta específica para gengivas e, por fim, remarcou para o próximo mês.

Pois bem, retornando para casa me lembrei do tempo que cuidava dos meus dentes de forma devida. A dor quando o fio dental percorreria todo lugar oculto que estava longe das cerdas da escova. O desconforto gerado, o gasto de tempo. A escovação que antes tinha entre 2 a 3 minutos, agora passa facilmente seu dobro. Além, o sangue e a dor acompanham-me neste momento, sem mencionar a pasta específica que contém flúor, um elemento químico adicionado a outros elementos e que formam meu creme dental, que ajuda a prevenir os sangramentos anormais da minha gengiva, além de tratá-las. Seu gosto era amargo e sua cor era sem graça.

Tal lembrança me levou a outra, como que instintivamente, que pode ser representada nas palavras de C.S.Lewis:

“Aquilo que não é eterno é eternamente inútil.”

Sim, meu devocional, que é eterno. A leitura bíblica e a oração. Existem outros meios da graça que Deus nos concede para nos aproximarmos dEle, contudo sem esses, não há devocional! A.W. Tozer uma vez disse:

“Eu me recordo de um homem de Deus a quem foi perguntado: ‘O que é mais importante: ler a Palavra de Deus ou orar?’. Ele respondeu: ‘O que é mais importante para um pássaro, a asa da direita ou a da esquerda?’”

Então, me indaguei: se sujeito meu corpo para o bem próprio dele mesmo, por que não o sujeitá-lo para o benefício eterno? (1 Coríntios 9).

Se derramo sangue (literalmente) em nome da vaidade, por que não pelo nome de Cristo, pela causa dEle?

Por que não passar tempo com meu amado e sentir o desconforto da minha carne, mortificando-a? (Romanos 8:13).

Pois não é amargo, porém mais doce que o mel a sua Palavra (Salmos 119:103). E, passar tempo com Ele é melhor que o próprio tempo em si, melhor do que a vida (Salmos 63:3). Ainda sem vontade, ainda sem sentir, ainda sem desejar, tenho que forçar meu corpo até acostumar e se tornar um hábito, uma disciplina, começando então a fluir de forma natural todo o processo bucal. Por que faria menos na busca do meu Pai? Será que não tem graça? Na verdade é a condição do meu coração, de enganador (Jeremias 17: 9-10), que inverte aquilo que é eterno para opcional e o opcional para divino. Vivemos a eternidade no lugar errado. Contudo, olharei para o espelho de forma peculiar.

O número de vezes que a escova deve ir e vir por cada dente, multiplicarei por 70, depois por 7. O resultado será o número de vezes que me voltarei ao meu querido Senhor. Não existe um número definitivo. É incalculável! Certamente levarei uma vida inteira para ter alguma noção. Assim seja! Quando pegar o fio dental, puxá-lo e envolvê-lo nos meus dentes, o sangue surgirá. Todo aquele fio branco em vermelho se tornará. Que assim seja a minha vida, nossa vida, marcada por sangue. Sangue que me lembra da Cruz. Sangue que me lembra dos mártires. Sangue que lembra a vida por este sangue, representando Ele.

Assim, com o passar do tempo, o fio não estará mais coberto por este sangue. Devido a prática diária do processo, será estancado. Portanto, desta forma é a vida daquele que se doar a Cristo: já não sangrará. Pois, não terá mais esta vida. Em Cristo agora vive!

1 comentário Adicione o seu

  1. Jaque disse:

    Muito bom o texto! Ensinando a priorizar O que vem Primeiro (não é pleonasmo, é fato!), como o Senhor nos ensinou: Buscar primeiro o Reino de Deus e sua Justiça. Obrigada, irmão!

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