O “NÃO” DE DEUS

Certamente você já ouviu a seguinte frase: A MINHA GRAÇA TE BASTA. Essa é uma das sentenças mais marcantes da Bíblia. Ela poderia muito bem ser título de mensagem, de livro ou lição de EBD, nome de filme ou de música, tema de congresso. Mas essa foi a resposta de Deus à oração de Paulo. Esse foi o dia em que Deus deu um “não” como resposta à oração de um bom e fiel servo seu.

“E, para que me não exaltasse pelas excelências das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de não me exaltar. Acerca do qual três vezes orei ao Senhor, para que se desviasse de mim. E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando estou fraco, então, sou forte.” – 2ª Coríntios 12. 7-10

O relato de Paulo sobre sua oração a Deus revela a resposta negativa que o apóstolo obteve. Não quero me esforçar em investigar o que seria o “espinho na carne”, mas sabemos que era algo que incomodava Paulo a ponto dele pedir a Deus três vezes para que o livrasse daquele mal. Assim, a resposta de Deus é “A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”. Observando o contexto, fica claro o porquê Deus dá essa resposta. Ele queria que Paulo percebesse sua própria fraqueza. Esse mal que o assolava contrapunha com a autoimagem que o apóstolo tinha, vide o verso 6. Com isso, ao perceber sua própria limitação, Paulo veria o como Deus é grande, veria o poder divino sendo manifesto em sua vida.

Entretanto, gostaria de usar dessa frase para trazer ao nosso entendimento uma compreensão melhor de quem somos perante Deus. Os cristãos hoje em dia têm sido levados a crer que merecem o melhor de Deus nessa terra. Dessa forma, Deus é visto como um ser divino capaz de realizar coisas grandiosas e sobrenaturais, podendo então atender aos desejos do coração humano, concedendo a esse um ilimitado alcance. O fruto dessa percepção é o homem tornando-se o centro do evangelho atual, sendo merecedor de coisas boas e tendo tudo a sua disposição. Ele é a “coroa da criação”, o dominador de todos os outros seres (Gn 1.26-28).

Assim, analisando o exemplo da oração de Paulo, compreendemos uma importante verdade: Deus realiza apenas a sua vontade e não está submetido a nada. Do ponto de vista de Paulo seria melhor que o “espinho da carne” lhe fosse tirado, porém, na ótica de Deus, a fraqueza, consequência ruim do espinho, era algo bom e que serviria para uma dependência maior do apóstolo, a fim de proporcioná-lo uma vida de experiência mais grandiosa com Ele.

Com isso, chegamos agora diante da nossa pequenez, fragilidade,  impotência, reveladas através da Bíblia e dos tempos. Pois, como disse Paulo em outro momento, que nosso maior alcance é facilmente ultrapassado pelo Senhor – Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.” (1 Coríntios 1.25). Tiago, também, ao criticar nossa prepotência ao acreditarmos no controle dos dias e de seus acontecimentos disse: Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco e depois se desvanece.” (Tiago 4.14). Ainda o salmista Davi, em oração a Deus, ao reconhecer as limitações humanas expressou:

Eis que fizeste os meus dias como a palmos; o tempo da minha vida é como nada diante de ti; na verdade, todo homem, por mais firme que esteja, é totalmente vaidade. Na verdade, todo homem anda como uma sombra; na verdade, em vão se inquietam; amontoam riquezas e não sabem quem as levará.” – Salmos 39.5, 6

Ou seja, por mais que não venhamos admitir, sabemos que somos frágeis, incapazes, limitados. Além do mais, a maior limitação humana não diz respeito a sabedoria, planejamento, administração do tempo, Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus.” (Romanos 3.23). Essa sim é nossa grande impotência, pois não importa o que fizermos, sozinhos não seremos salvos. A salvação é obtida pela graça, “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus.” (Efésios 2.8). Paulo ainda diz no verso 9 de Efésios 2, “Não vem das obras, para que ninguém se glorie”.

Por fim, volto-me à primeira parte da resposta de Deus à oração de Paulo: “A minha graça te basta”. Esse deve ser o nosso conforto, a nossa segurança. Clamaremos a Deus, pediremos cura, ressurreição, libertação, salvação, paz, e outras coisas mais. Porém, necessitamos sempre lembrar que a maior dádiva já nos foi dada, o sacrifício de Cristo pelos nossos pecados, a salvação por meio da fé nele e a imerecida graça para conosco. Muitos tem enfrentado questionamentos, incompreensões, desilusões, profundas tristezas, perdas. São instantes que percebe-se a corruptibilidade desse mundo e desse tempo. No entanto, saibamos que já temos o maior presente, a SALVAÇÃO. Se a partir de hoje obtivermos um “NÃO” de Deus para todas as nossas orações, sejamos ainda assim infinitamente agradecidos, pois já recebemos a graça, e ela nos basta.

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